"To fall off the edge and totally blind To know the truth but only use lies Don't let trouble climb, my friend, the golden rule Don't let trouble, don't let trouble climb O.K. this is the pops
Creep, creep, creep up but don't ever be real Know the truth, but tell only lies The golden rule is, my friend, don't ever be real The golden rule use only your eyes O.K. this is the pops
A good walker leaves no tracks A good door needs no locks Only one weakness inside No one can be sure, my friend Where truth begins and fiction ends No one can be sure save your eyes O.K. this is the pops"
Tones on Tail - "O.K. this is the pops"
Ontem em uma conversa sobre "as pessoas" -- essa disforme criatura em que se diluem indivíduos por toda a parte -- eu me lembrei dessa música do Tones on Tail, sublime e efêmero desdobramento paralelo do Bauhaus. Para os fins desejados aqui, essa música fica ótima se ouvida, com a voz sempre cínica e blasé do Daniel Ash, tendo em mente aquele meu post sobre "Nossa Geração" (ou, reversamente, aquele post fica ótimo se lido tendo essa música em mente). Embora essa música seja originalmente uma crítica à superficialidade e artificialidade da indústria pop, tanto forma quanto conteúdo dessa crítica servem para que a mesma crítica seja lançada a outros meios -- todos interligados em última instância, então fica tudo junto.
Verso a verso, essa música descreve -- com o poder de síntese que bons artistas dominam enquanto nós teóricos apenas admiramos, incapazes de reproduzir -- o lamaçal do jogo de aparências e indistinção que abunda ao nosso redor. Não cabe aqui elaborar muito sobre o assunto, pois eu estaria apenas repetindo o que eu já elaborei satisfatoriamente no post citado. Nem cabe esmiuçar e analisar a música: não só seria um desserviço e desmerecimento justamente do poder de síntese ilustrativa, como também nem precisa -- para bom entendedor meia palavra basta, a good door needs no lock. E convenhamos, se for preciso explicar o sarcasmo e deboche de "the golden rule is don't ever be real / use only your eyes", então é porque nem adianta explicar...
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A meus inúmeros e abundantes leitores, esse blog não está morto ou engavetado, esse mês parado foi apenas "recesso de fim de ano", i.e. preguiça de escrever potencializada pela pasmaceira de férias. Eu tô cheio de coisas acumuladas para escrever (porra, nesse meio tempo o Will Eisner morreu!), e ainda tô devendo (ao menos para mim) a síntese de fechamento da minha dialética "de Natal" (que a essa altura sai mais como "de Carnaval"), cujo adiamento contribuiu bastante para esse recesso -- é uma idéia difícil, a maneira como eu consiga expressá-la vai gerar ou uma plena banalidade ou algo de razoável significância.
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Engraçado, reparei agora que, embora meu post em 1o de Janeiro de 2004 tenha sido uma citação de "New Year's Day" do U2, minha "mensagem de ano novo" verdadeira foi "Go" do Tones on Tail. E eis que nos dois anos novos vistos por esse blog, ambos eu saudei com Tones on Tails. Bom, os caras são fodas, fazer o quê?
Eu odeio a palavra "sublime" ("sublimação" então nem se fala, uma falácia), ela é um daqueles adjetivos que são jogados a torto e a direito, de modo que embora ela devesse indicar alguma superlativa excelência, passa a significar qualquer coisa (mas aí eu entro novamente em criticar a indistinção de tudo ser ótimo que eu já falei). Meu ponto é que o Tones on Tail é um dos raros casos em que eu acho que o emprego da palavra seja devido. Eles conseguiram misturar experimentalismo (argh!), psicodelia (aimeudeus!), uma riqueza de bases técnicas e teóricas (cruzcredo!) com peso e até uma eventual gotiquice, resultando em um daqueles raros casos em que algo genuinamente novo é criado. E ainda assim (ou provavelmente por causa disso) permanecem desconhecidos fora de um meio muito restrito, e mesmo dentro dele pouco conhecidos e entendidos -- o "gótico médio" (e até hoje eu não discorri sobre a idiossincrasia do "gótico médio") os arquiva como banda gótica, por associação ao Bauhaus (que já é uma estupidez ser arquivado como gótico), denunciando nunca terem ouvido de fato a banda, pois teriam percebido que o gótico não tem nada a ver com as calças, eles estão mais pra uma jam session dos anos 60 cheia de LSD na idéia.
Quem lê esse blog com alguma freqüência deve prever que essa é a altura em que eu falo de falhas de caráter, recomendo o garimpo musical, etc.. No caso deles é até fácil, já que a produção deles foi realmente efêmera, apenas um álbum e um punhado de singles e EPs, encontrados no apropriadamente batizado "Everything", álbum duplo que reúne todo o material da banda.