A Single Kiss ano X:
The Chestnut Tree Café
"Under the spreading chestnut tree, I sold you and you sold me"
-- George Orwell - "1984"

Após anos sob interdição, o Chestnut Tree Café agora se dedica a registrar as Crônicas de um Escravo de Colarinho Branco.

Música:
R.E.M.
Sisters of Mercy
Echo & the Bunnymen
Bauhaus
Kraftwerk
Nitzer Ebb
Leonard Cohen

Mas um dia foram:
Metallica
Iron Maiden
Ramones
Motörhead
Rage Against the Machine
Suicidal Tendencies

Filmes:
Big Fish
Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Bicentennial Man
The Wall
Fight Club
Before Sunset

Escritores:
F. Dostoievski
J.R.R. Tolkien
Leonard Cohen
F. Nietzsche
W. Reich
Alan Moore
Frank Miller

Lendo no momento:
F. Dostoievski - Um Jogador

Posts de destaque:
Inauguração
MTV
A palavra
Adaptações para Star Wars
Santos-tolos I, II, III, IV
A Paixão de Cristo I, II
Nacionalistas
O Medo
Nossa geração
Patterns
A censura
Joseph Welsh e Michael Moore
Dostoievski I, II, III
The Young Ideas

The Inner Party:
Após vários julgamentos públicos, há escassez de membros a indicar

Aprovados pelo MiniTrue:

Virtual Bookstore - Brasil
International Movie Database
H.R. Giger Official Website
Video "Killing Time at Home"
Absurd - Design Anihilation
Sinfest
Albino Black Sheep
Something Awful
Anel Um PBM

Quem controla o passado controla o futuro:




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segunda-feira, setembro 29, 2003

 

Momento infâmia, porque eu também sou filho de Deus, né? Uma piada meio manjada já, mas com um novo (espero) gracejo meu no final. Muito rebuscado, de modo que só pessoas com um refinado e excelso senso de humor como o meu, aliado com sublimes referências eruditas, poderão desfrutar... :P

Monty Python's Lord of the Rings:

Cena do duelo na ponte de Khazad-dûm:

-BALROG: Quem é você?
-GANDALF: Eu sou um servo do Fogo Secreto, portador da Chama de Anor [ou coisa do gênero]
-BALROG: Qual sua missão?
-GANDALF: Proteger o Portador do Anel. You shall not pass!
-BALROG: Qual sua cor favorita?
-GANDALF: Cinza. Não, branco! AAAAHHHH!!!!!

Essa nem merece música do dia... :P


posted by Manhaes at 2:35 AM
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sexta-feira, setembro 26, 2003

 

Deuses Americanos

Há umas duas semanas, de molho em meio à minha convalescência, eu cedi a pressões de várias fontes e finalmente li Deuses Americanos do Neil Gaiman. Sumariamente, dá pra falar 3 coisas dele: Neil Gaiman é que nem pizza, até quando é ruim é bom; o cara não se esforçou; e rolou uma reciclagem canastra de idéias já exploradas em Sandman.

Eu relutei durante bastante tempo em ler o livro (ainda mais em português, que é uma questão a parte, tradução sofrível...), acho que rolou uma intuição, e bem fundamentada. O poder do Neil Gaiman de criar histórias envolventes e ricas já é conhecido de quem tenha lido qualquer trabalho dele, e justamente por isso, ao ler esse livro rolou aquela sensação meio decepcionada de "mas ele já fez melhor...". A boa notícia é que um trabalho mediano de Mr. Gaiman ainda é muito acima da média do que se vê por aí.

Pra quem não leu nada dele, ou ao menos não leu Sandman, o livro deve servir como um cartão de visitas muito sedutor, para que futuramente a pessoa talvez possa conhecer "the real thing". Mas quem já leu Sandman, ou mais especificamente Season of Mists e Brief Lives (respectivamente 4a e 5a novelas da saga) vai ter um baile de anti-clímaxes, já que o livro parece uma reedição delas. O clima road movie, ao longo do qual se encontram várias figuras extraordinárias, é o mesmo (com direito até a cenas semelhantes) de Brief Lives, e várias das figuras-chaves já nos foram apresentadas em Season of Mists. Por exemplo (sem spoilers), logo no início do aparece o misterioso e excêntrico Mr. Wednesday, e apenas muito depois é revelada a verdadeira identidade dele: poxa, Mr. Gaiman, sem graça, quando ele se apresenta quem leu Season of Mist sabe de cara quem ele é! A própria idéia central do livro, de como os deuses existem e se mantêm, já havia sido apresentada exatamente igual nos dois volumes mencionados de Sandman. Por essas e muitas outras, a sensação de que o cara não se esforçou, optando por jogar qualquer material já usado, meio-digerido, pros leitores - tanto fãs devotos que vão consumir qualquer coisa com a mão dele e achar o máximo, quanto leitores novos, que por desconhecer o material anterior, vão também achar o máximo.

Em uma entrevista antiga, falando sobre não continuar Sandman, Mr. Gaiman comentou sobre a necessidade de encerramento que qualquer história tem, e sobre resistir à tentação de ir esticando indefinidamente a história para muito além de sua relevância só pra continuar vendendo, como a maioria dos quadrinhos estabelecidos fazem. Especificamente, ele falou como, acima de tudo, não queria que Sandman se reduzisse a um "Myth-of-the-month club", tipo "que mito vamos visitar na edição desse mês?". Poisé, parece que o que ele evitou lá ele fez aqui: a cada escala da jornada do protagonista, o autor parece jogar divindades e mitos diferentes de maneira gratuita, só pela variedade. A espectativa de quem será o próximo deus é ate divertida por um tempo, mas cansa logo, não sustenta sozinha um livro.

O andamento do livro também é meio técnico demais, como se ele tivesse seguido um modelo de roteiro pré-moldado, reforçando a sensação de falta de esforço criativo. Eu fiquei me sentindo como um amigo meu que fez cinema, e que fala como não consegue se envolver em vários filmes "pré-formulados", pois sabe que nessa altura vai surgir o complicador da história, por aqui vai rolar uma cena de amor, aqui entra ingrediente tal, e por aí afora. O livro segue um ritmo muito marcado: vai correndo tudo legal, com Mr. Gaiman dando sua hábil semeada de ingredientes e elementos aparentemente soltos, até que lá pelo último terço do livro (explicitamente marcado em um livro dividido em 3 partes, com o final da 2a parte sendo a deixa condizente pra iniciar o clímax) ele parece ter se agitado em sua cadeira, dito "ih, tá na hora de terminar", e começado a amarrar as pontas, até então aparentemente soltas, e preparado um clímax apropriado. Tudo muito bonito e correto, mas com aquela impressão de que se está apenas cumprindo o serviço, satisfatório, mas sem dar de si.

Não totalmente diferente de como um outro amigo meu comentou uma vez, falando sobre aquele sexo meio mecânico pra "cumprir serviço": você fica lá, rolando a penetração num ritmo contínuo, e depois de um tempo fala "tá bom, agora tá na hora de gozar", daí acelera o ritmo "bombeando até gozar". Tudo bem, ejaculou, mas gozar é só isso?

Quanto à versão em português, nem tudo é culpa da tradutora, Ana Ban. Parte do meu pé atrás em ler em português era por saber como Mr. Gaiman (na verdade, bons escritores em geral) costuma usar e abusar habilmente de recursos linguísticos, como pegar palavras que têm vários significados e usá-los todos, simultaneamente, em uma única frase. Tais recursos ficam, na grande maioria dos casos, presos à língua original de publicação, e como ganchos narrativos e viradas de enredo da obra do Mr. Gaiman contam com esses recursos, a versão traduzida fica fadada a perder parte de sua força. Nem o melhor dos tradutores se esforçando ao máximo conseguiria dar conta deles.

Não que esse tenha sido o caso; rolou uma insuficiência de conhecimento de gramática e vocabulário DAS DUAS LÍNGUAS pela tradutora. Aquele desfile usual de falta de concordância de gênero e número truncando a frase, confusão de tempos verbais (a diferença entre "se eu fui" e "se eu fosse" não é mera formalidade, muda inteiramente o sentido da frase) e por aí vai. E aquela sofrível tradução literal de termos compostos, onde cada palavra da expresão é traduzida individualmente (ou quando a palavra é desconhecida, chutada sem nem consultar um dicionário!), tornando a expressão totalmente sem sentido. Eu não guardei todos os exemplos, só os mais gritantes, e agora só estõ me lembrando de um impressionante "con artist" virando "artista do contra". Não é à toa que "tradutor" tem a mesma etmologia que "traidor"...

Um entretenimento muito bom, mas pouco mais do que isso, nenhuma obra-prima, o que é uma pena vindo de um autor que já nos trouxe tantas.

Mr. Sandman, bring me a dream
Make her the cutest that I've ever seen...


posted by Manhaes at 2:52 AM
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sexta-feira, setembro 19, 2003

 

Hahahaha, mirei no que vi acertei o que não vi. Ainda sobre Piratas do Caribe, eu passei o filme inteiro, chato que eu sou, falando como tinha horas que ela ficava a cara da Natalie Portman. E então que, enquanto eu tava escrevendo sobre o filme, eu fui no IMDB dar uma conferida em coisas sobre ele (tipo o nome do Geoffrey Rush, q eu sabia quem era mas não lembrava de cabeça), daí aproveitei pra ver se a tal da Keira Knightley já tinha feito algo que eu tivesse visto. E não é que ela fez a Sabé, uma das aias/buchas-de-canhão da Princesa Amidala em Ameaça Fantasma, ou seja, ela oficialmente se parece com a Natalie Portman!

Desconfio que tenha sido isso, eles não quiseram pagar o cachê da Natalie Portman, então contrataram ela que tava com um precinho mais em conta. Deve estar no porfolio que o agente dela apresenta aos estúdio, "Atributos: parece com a Natalie Portman -- útil pra cenas de dublê de corpo, enredos com gêmeas ou sósias, ou pra diretores que quiserem contratar a NP mas já estão com o orçamento apertado." :P


posted by Manhaes at 4:03 AM
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Gente, e não é q Piratas do Caribe é legal? Cinema-pipoca, claro, mas até que vende bem vendida essa pipoca, muito bom enquanto entretenimento descompromissado. Johnny Depp realmente me convenceu como o pirata seqüelado Jack Sparrow, Geoffrey Rush (com currículo de vilões esquisitões, vide o Casanova Frankenstein de Mistery Men) também vende bem seu peixe como capitão dos malditos. O Jack Sparrow ficou legal mesmo, pirata decadente que já viu dias melhores (mas mantém uma lábia digna de Han Solo), vivendo de glórias passadas, que ainda faz todas aquelas estrepolias capa-e-espada típicas, mas todo cambaleante e perdendo o equilíbrio, maneira interessante de abordar um estilo manjado e zoar seus galãs com suas manobras impossíveis e perfeitas

Já a dupla de mocinhos bonitinhos é que não me convenceu muito. O Orlando Bloom, tadinho, parece que sempre acaba relegado a rasgar seda pro galã principal (aqui, louvando o caráter de Jack Sparrow, em Senhor dos Anéis, alertando Boromir no Conselho de Elrond "Olha como você fala, esse não é um ranger qualquer, é Aragorn, filho de Arathorn, e eu quero dar pra ele"), não passa do serviço básico de mocinho 1.0 à sombra do galã canastrão (quem nasce pra Legolas ou Luke não chega a Aragorn ou Han Solo). Agora, difícil mesmo de engolir é a mocinha, tanto a atuação quanto a personagem. Essa tal de Keira Knightley passa o filme inteiro fazendo biquinho pra câmera (resultando em parecer sósia da Natalie Portman) e tentando fazer cara de sedutora-porém-intrépida, sem convencer. E me digam, como é que a donzela indefesa padrão, nobre e paparicada, filha do típico político que se esconde no fundo do navio quanto a porrada estanca (ou seja, não tem nem como dizer que praticou combate com o pai), de uma hora pra outra saca ousadas manobras navais, que nenhum dos experientes piratas a bordo tinha pensado, usa mosquetes, ou se garante no mano-a-mano com dois piratas ao mesmo tempo? Sim, é um filme de fantasia, mas zumbis e maldições estão na premissa do filme, mantêm a coerência interna, mas essa aí abusou da credibilidade.

Claro, o enredo não é nenhuma grande originalidade (queria o que, é baseado em algo que não tinha absolutamente enredo algum!), mas a gente não veio aqui pela trama envolvente, né? Vejamos: o mocinho bonzinho e ingênuo, que não conhece o pai e só sabe uma história mal contada sobre quem foi ele, consegue a ajuda do canastrão manhoso pra pegar a "nau" mais rápida da região e ir resgatar a nobre raptada pelo vilão. Alguém já viu essa história antes, há muito tempo atrás, em um arquipélago muito, muito distante? :P

Pra quem viu (ou quem for ver, repare, sem spoilers), duas cenas que me intrigaram:
-Jack Sparrow algemado, vai fazer a clássica cena de deslizar do topo da muralha por uma corda até o cais. As duas pontas da corda estão amarradas, claro, assim como as duas pontas da algema nos pulsos dele. Como então que ele consegue PASSAR a corrente ao redor da corda, ficando com cada pulso pendurado de um lado da corda pra descer? Rolou ajuda de Penn & Teller?
- Um bote devidamente vedado, virado ao contrário, consegue reter ar permitindo que quem está debaixo dele possa respirar, ok (é o rudimento do submarino). Mas como é que duas pessoas, segurando nas bordas viradas do bote, conseguem arrastá-lo pra baixo d?água, ao invés de flutuar até a superfície? Tudo bem, podem ter rolado umas botas de aço muito sinistras (um dos caras afinal de contas era ferreiro), mas se foi não mostrou, podem ter guardado a cena da confecção delas pra Special Edition... :P

No clima de piratas, a música de hoje fica sendo:

Primus - Sailing the Seas of Cheese

"When the going gets though
And the stomach acids flow
The cold wind of conformity
Is wipping at your nose
When some trendy new atrocity
Has brought you to your knees
Come with us
We'll sail the seas of cheese"


posted by Manhaes at 3:32 AM
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terça-feira, setembro 16, 2003

 

Follow ups de posts anteriores:

-Sobre a MTV (de 04/Set): O Multishow tá passando uma série de programas (não tenho certeza de quantos episódios) bem legais da VH1 sobre história da música pop. Semana passada foi sobre o cenário de 1981, bem abrangente (como tinha que ser, se tratando de um ano divisor de águas como esse), falando desde morte do John Lennon (dezembro de 80 na verdade), declínio do bom rock dos anos 70 e ascenção do rock das power ballads, rádios de rock se tornando comerciais e tal, até a quebra radical de paradigmas que foi o surgimento da MTV.

Legal o programa, não sei se ainda reprisa, divertido e cheio de triviazinhas legais (tipo saber que a fofa "Video Killed the Radio Star" do Bugles foi o primeiro clip tocado na MTV, alfinetada nas rádios), e é sempre legal ver uma matéria fazendo colagem de, e comentando, Joan Jett, Kim Karnes, Duran Duran, Devo, e por aí vai. Ele dá um contexto bem legal do cenário que permitiu que a MTV vingasse como vingou. Rádios só tocando os hits programados, sem querer saber de "gente esquisita" como Police e Man-at-Work e Duran Duran. Eles foram então aceitos de bom grado pela MTV, que passou a ser o veículo oficial de todos os novos sons que surgiram no início dos anos 80. E por aí vai.

Poisé, a MTV americana foi instrumento revolucionário no seu tempo de glória, muito mais até do que a brasileira, jogou a música corporativa pra escanteio e deu fôlego novo à indústria musical. Mas com o tempo deu no mesmo... :(

Essa semana (3a à noite e 4a a tarde) vai passar um episódio falando sobre 87. Rola um foco em bandas que no de 81 foram mencionadas apenas como "conseqüências", influenciadas pelas mudanças de 81, e em 87 estavam em maior ou menor grau estourando: R.E.M., U2, Madonna, e mais uma penca. Confiram, raro caso de coisa instrutiva e divertida na televisão.

-Sobre Star Wars Special Edition (de 05/Set): Essa semana eu vi (não lembro se MTV ou Multishow) um episódio de South Park onde eles demonstram serem fãs também indignados. Os moleques vão ao cinema ver "Império Contra-Ataca", e vêem antes dois trailers bastante curiosos: um do relançamento de E.T, com o anunciador frizando aquela edição ridícula (e verídica) da substituição das armas dos policiais por walkie-talkies, e também que nas falas a palavra "terrorista" foi substituída por "hippie" (tudo certo na opinião do Cartman, já que pra ele é tudo igual); o outro é do relançamento de "Resgate do Soldado Ryan" TAMBÉM com todas as armas de fogo substituídas por walkie-talkies! Mostra uma cena da invasão da Normandia, os soldados aliados correndo pela praia indefesos de rádios na mão... :)

A gota d'água vem quando começa o filme: é anunciado que a palavra "wookie" foi substituída por "pessoa com problemas capilares", e que TODO o elenco foi substituído por ewoks! Segue daí uma cruzada social malograda dos meninos pela preservação dos originais, com direito a confronto com os dois grandes vilões George Lucas e Steven Spielberg (que no meio disso resolve relançar "Caçadores da Arca Perdida" com mega efeitos). Nota especial pro anúncio filmado que aparece no meio do episódio: Trey Park e Matt Stone em pessoa anunciando o relançamento do episódio-piloto de South Park (acho que nunca passou na televisão aqui, é algo muito precário, quase caseiro) com todos os efeitos especiais que "sempre foi a idéia deles usar, mas eles não tinham recursos na época" - imitando exatamente o papo de Titio George para a Special Edition. Cenas como os moleques no ponto de ônibus com Imperial Walkers passando ao fundo, ou os ETs de papelão que abduzem o Cartman substituídos por complexas CGIs. Muito bom!


posted by Manhaes at 3:12 AM
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sexta-feira, setembro 12, 2003

 

O filme novo da Amélie Poulain

Parece que amanhã estréia o filme novo da francesinha (o diminutivo não é um pejorativo machista, é pessoal mesmo, ela parece ser o tipo de pessoa que nos compele a usar diminutivos condescendentes) que fez Amélie Polainas. O engraçado é que eu vi tudo às avessas, eu devo ter sido a última pessoa a ver "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (só vi esse sábado, curtindo uma HBO de molho no hospital), enquanto "Bem Me Quer, Mal Me Quer" (o tal novo) eu vi tem quase um mês, numa chique sessão de cabine na aba de amiga da namorada. Então vamos falar mais dos dois juntos.

Eu fiquei espantado vendo Amelie Poulet (o rebuscado trocadilho em francês não é meu, me ensinaram), todas as pessoas que na época comentaram sobre ela estavam encantadas e apaixonadas com ela, pela doçura, romantismo, leveza, e tal. Como assim, gente, desde quando psicose se tornou ideal de vida a se seguir? Tanto a personagem quanto a história são doentios! Maior transtorno esquizo-afetivo (ou coisa do gênero, CID-10 de cú é rola), mas só porque é tudo muito rosado, florido e sorridente as pessoas acharam o máximo, encantadora a "excentricidade" (maior eufemismo pra loucura) dela? Só porque ela passa o filme inteiro com aquela expressão de meiga e docinha paralizada na cara a doença fica bonitinha? Gente, uma cara constante de bobo-alegre que tá sorrindo sem saber por que não é ser feliz e otimista perante a vida, é a maneira socialmente aceitável de literalmente mascarar toda a sua angústia e infelicidade! Acima de tudo mascarar de si mesma, claro, de modo que a pessoa jure que é feliz. Eu digo a vocês, se rolasse um Amelie Poliana 2 verossímil, ia ser com ela uns 10 anos depois com câncer terminal, produto desse desvio todo...

E o pior é que eu sei que eu sou minoria nessa opinião, soube que rolou até valorização dos imóveis na vizinhança onde se passa o filme, tamanha a afluência de turistas interessados pelo filme. E com tanto lugar interessante pra se visitar na França!

Já o "Bem me quer..." é ambíguo: ao mesmo tempo que ele investe na fórmula que funcionou, repetindo a jogada da menina fofinha e ainda mais sorridente, ele assume que rola um quê de doentio nessa polianice toda. Essa ambigüidade está até na estrutura do filme, que é implicitamente dividido em duas partes. Eu até gostei do filme, que melhora substancialmente na segunda parte, tanto pela história e narrativa se tornarem muito mais interessantes, quanto principalmente por termos menos daquele sorriso paralizado e nauseante sendo jogado na nossa cara com uma gratuidade pornográfica a todo instante.

A atriz (sei lá o nome dela, não merece uma busca pra descobrir) nos mostra a amplitude interpretativa de um Hayden Christensen ou um cigano Igor. É desconcertante ver a cara paralizada dela, e impressionante ver as pessoas achando aquilo fofinho, ou -- pasmem! -- boa atuação! Maçãs do rosto contraídas o tempo todo, lábios apertados fazendo um sorrisinho fino, é direitinho o protótipo daquelas pessoas sempre sorridentes, mas que (ou por causa disso) você sente que são capazes de te esfaquear sem abalar o sorriso.

Saiu ou tá pra sair já um outro filme dela, sua primeira atuação numa produção americana. Não lembro de detalhes, mas lembro que era uma história diferente dessas, vamos ver se finalmente ela se mostra capaz de fazer outro papel!

Vamos dedicar a música de hoje a ela? Penei pra achar alguma, mas que tal "Dead Skin Mask" do Slayer? Se aplica duplamente, pela aparente agradabilidade da cara inerte dela, e por a música originalmente falar do Hannibal Lecter, de quem a Amelie Papoula deveria ser vizinha na ala psiquiátrica...

Graze the skin with my fingertips
The brush of dead cold flesh pacifies the means
Provocative images, delicate features so smooth
A pleasant fragrance in the light of the moon
(...)
Simple smiles elude psychotic eyes
Lose all mind control, rationale declines
Empty eyes enslave the creations
Of placid faces and lifeless pageants


posted by Manhaes at 3:57 AM
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quinta-feira, setembro 11, 2003

 

Onze de Setembro, né? Quer saber, caguei, estou literal e figuradamente preocupado demais com meu nariz pra me importar com questões do mundo...

Nah, na verdade acho assunto importante sim, claro, mas acho a maior demagogia lembrar de falar dele pela data (tipo dia da mulher e dia da consciência negra), e a essa altura não tenho nada de relevante pra adicionar à discussão, tanto pessoas medíocres quanto pessoas excelentes já falam exaustivamente sobre isso.


posted by Manhaes at 4:02 AM
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Bom, prestando então contas com a contextualização -- essa sim entidade poderosa -- pra quem é próximo o suficiente pra saber da minha vida, mas não o suficiente pra saber por meios mais diretos:

Há 3 semanas eu operei desvio de septo -- e antes que façam piada, foi desvio de septo, coisa interna, remover calcificação pra melhorar a passagem de ar (mais oxigênio = mais energia), não foi rinoplastia, o napão continua incólume no lugar. :P

Tranqüilo, sem dores, pós-operatório safo, já tava razoavelmente de volta à programação normal quando na quinta passada, com literalmente um espirro mal dado começou a sangrar consideravelmente. Não coriza sanguinolenta, nem dia mais forte da menstruação, nada de gotinhas, fluxo de sangue venoso grosso mesmo, nariz é foda, até no seu estado normal com qualquer coisinha sangra horrores. Não é nada perigoso nem doloroso, mas extremamente incômodo, ainda mais porque no reflexo de levantar a cabeça, você passa a beber por dentro esse sangue, altas goladas...

De 5a pra 2a rolaram vários episódios, acho que mais de um copo de 300ml foi-se nessa, e teve direito a uma reinternação às pressas no fim de semana, naquele esquema "bora pra sala de cirurgia ver o que a gente faz". Sem drama, só tamponaram o nariz (a essa altura eu já tô achando coisas entrando e saindo no meu nariz a coisa mais normal do mundo, imaginem passar 3 dias com o seu polegar inteiro enfiado no nariz). Pior que pra baixar ainda mais minha moral, depois disso ainda voltou a sangrar... :/

Pior é que a operação em si tá safa, não arrebentou pontos, nada saiu do lugar, e nesse meio tempo já deu pra sentir que valeu a pena. Essa complicação, embora não sem precedentes, não faz parte do protocolo, então quem estiver cogitando fazer (já que é algo bem corriqueiro) não se assuste pelo meu relato. Até porque, esqueci de mencionar, a minha contagem de plaquetas é um pouco mais baixa do que o normal, então o problema da coagulação é meu, não da operação.

Agora eu tô naquele esquema de fazer tudo muito na vagarosa, andando que nem um sequelado, evitando até pensamentos excitantes pra não alterar a circulação, ô areazinha pra ser irrigada!

* * *

Antes que critiquem a exposição pessoal, estou relatando algo de particular meu, mas não mais privado ou íntimo do que quando se comenta algum episódio q embasa uma crônica (tipo "hoje no ônibus aconteceu algo engraçado"), e sem nenhuma lavação de roupa suja ou coisa do gênero. Tipo terapeuta que quando relevante dá uma quebrada na neutralidade contando algo seu, mas respeitando a margem. :P

* * *

As noites nesse meio tempo foram algo bem incômodo, tinham um ar meio irreal de pesadelo, eu parecia uma das futuras vítimas do Freddy Kruegger, com medo de dormir (quatro dias dormindo duas horas por noite colaboram pra essa irrealidade). Com medo de fazer qualquer movimento na verdade, sentar na cama e levantar requeria uma tomada de coragem, depois que um dos episódios começou com um mero reposicionar de pernas quando deitado. Eu me sentava e respirava, esperando sentir o sangue descendo pela garganta, como a visita de uma entidade mal-vinda ("Tá, pode vir, tô esperando"). Você leva na boa, ossos do ofício, mas lá pelas tantas começa a perder a linha, bebendo e engasgando em um fluxo constante por 10 ou 20 minutos por vez (e beber sangue não tem nenhum glamour gótico, arde e irrita instantaneamente a garganta), ainda mais quando o tamponamento que deveria impedir o sangramento falha em sua função, bate um desespero. E a última coisa que você precisa numa hora dessas é a bola de neve do desespero, te deixando tenso, aumentando a circulação e renovando o sangramento.

Em algum momento por aí eu descobri algo interessante, você não precisa de fé pra ser reconfortado por ela, pode usufruir da fé alheia. Não digo a fé religiosa (meu eleitorado me conhece bem demais pra tentar qualquer baboseira "Deus vai te proteger" comigo), mas a fé implícita, genérica, do tipo "Pense positivo, calma que isso vai passar". Foi reconfortante me mostrar fraco, choramingar um amparo, e conseguir por fim dar a acalmada necessária perante a situação. Calma, eu tenho noção de proporção, não é nenhuma doença sequer grave, naõ tô falando como se tivesse sido um suplício extremo - tô falando apenas da angústia que eu passei, sem comparações de intensidade.

De resto, meu nariz não sangrar é uma teoria científica, nos moldes que o próprio Stephen Hawkins descre: o meu nariz não está sangrando, afirmação que é passiva de refutação ao ser testada em cada movimento que eu faço, e com cada movimento sem sangrar a afirmação ganha força; porém, não importa o quão forte ela fique, ela ainda pode ser negada por um gesto trivial em seguida.

Pensando nisso, e derivando de assunto, o ato de basear-se em um teorema científico e o ato de fé são essencialmente a mesma coisa, uma questão de crença, não? Isso me lembra algo, então ao invés de música do dia, vai o encerramento que Abracurcix, chefe daquela tribo de irredutíveis gauleses, dava a todos seus discursos em tempos de crise, reconfortando a tribo:

De qualquer modo, lembrem-se que só há uma coisa a temer... que o céu caia sobre nossas cabeças!


Sei lá, né, até agora não caiu, mas quem garante? ;)


posted by Manhaes at 3:40 AM
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terça-feira, setembro 09, 2003

 

Essa noite meu nariz não sangrou, pela primeira vez desde quinta. Sem maiores delongas, depois eu comento mais, pra não abusar da sorte, quis só comemorar aqui minha pequena vitória, e me desculpar que dessa vez os intervalos grandes entre posts não estão sendo displicência minha.

Rapidinho, mas tem música da vez! Tem que ter, "A Small Victory" do Faith No More, caindo como uma luva.


"The small victories, the cankers and medallions
The little nothings
They keep me thinking that someday
I might beat you
But I'll just keep my mouth shut"


Espero que Deus, ou seja lá quem estiver de plantão, não castigue como orgulho minha aliviada comemoração por um dia sem precisar beber sangue. Este agnóstico estava a ponto de fazer uma reza já...


posted by Manhaes at 3:28 PM
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sexta-feira, setembro 05, 2003

 



Ontem eu tava dando a minha passada ocasional pelos blogs da galera (algo que ocorre tipo uma vez por mês) quando dei de cara com essa campanha, cujo slogan comovente me conquistou imediatamente. A esquiva "click-and-drag" do Han Solo na Special Edition é uma das coisas mais constrangedoras dos últimos tempos no cinema, ofensa não só aos fãs como à inteligência de qualquer espectador pelo seu absurdo. Dificilmente vai adiantar, como todos abaixo assinados de internet, mas esse tá bem organizado, com confirmação de email e tudo, então vai que cola, né? Se bem que estando em jogo o ego de Titia Lucas, não dá pra ter muitas esperanças... :/

Mas paixões de fãs e nerdices à parte, gente, pára pra pensar em como é sério isso que o GL tá querendo; em suma, pra quem está por fora, lançar apenas a SE em dvd, pra que, dado tempo suficiente, a edição original caia no esquecimento. Ou seja, lançar um filme, depois refazê-lo, e buscar suprimir a primeira versão para que, para as "gerações futuras", a Special Edition seja a única versão existente.

Alguém acha isso parecido com o trabalho do Minitrue em 1984?

O slogan do Partido:
"Quem controla o passado controla o futuro.
Quem controla o presente controla o passado."

O trabalho dos funcionários do Minitrue, pra quem não leu o livro, era uma perpétua reedição de todos os registros históricos, para que todas as previsões do Partido estivessem sempre corretas, para que qualquer mudança recém-imposta "sempre tivesse existido" ou algum antecedente histórico inconveniente "nunca tenha acontecido". Todas as referências a uma pessoa executada, por exemplo, eram suprimidas, de modo que aquela pessoa não tenha deixado de existir: simplesmente nunca houve tal pessoa.

Titio George, assim como o Partido, está na posição de detentor dos registros em questão, e de definir quais registros vão perdurar ou não, para que sua versão dos fatos se torne Verdade única e incontestável. Mesmo com uma resistente minoria preservando suas cópias da versão original, mesmo as passando para dvd, em algumas décadas seriam uns poucos e desgarrados gatos-pingados a dizer que no palácio do Jabba se canta "Lapti Nek"; as pessoas em geral atestariam que foi "Jedi Rocks", ainda mais com a plausível suposição de que em relativamente pouco tempo filmes em vídeo se tornem itens de arquivos empoeirados e pouco vistos.

Alardista da minha parte, talvez, mas alardes a parte a analogia é plenamente cabível. E sei lá, toda vez que eu vejo algum evento real se assemelhando a algum elemento de 1984 dá um frio na espinha... :/

A música de hoje TEM então que ser Lapti Nek, "alien disco" adorável que foi vítima de extinção na SE. Só não tem como colocar letra, por que eu não sei Huttese - nerdice tem limite, né!


posted by Manhaes at 2:28 AM
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quinta-feira, setembro 04, 2003

 

"We need change, we need it fast
Before rock's just part of the past
Cause lately it all sounds the same to me"


A música de hoje cai tão como uma luva no post que eu vou até abrir ao invés de fechar com ela. Não que eu só vá falar estritamente de rock, mas o tema da insatisfação da demanda por algo novo e bom gerando o retorno às referências passadas é a questão.

Alguém aí também é como eu e, por causa da memória gravada por repetição nos tendões da mão do controle remoto, ainda muda de canal freqüentemente pra MTV, só pra se espantar renovadamente com a escassez de música? Poisé, nessa eu fui reparando que rolava um horário nebuloso na madrugada em que *até* rola música, e só coisa boa, em uma densidade há muito não vista na emissora, e abençoadamente livre dos vjs enfadonhos que assombram os demais horários. É uma horinha só, maior esmola cala-boca, mas onde se dava tudo por perdido, qualquer "Policy of Truth" é lucro!

É uma boa pedida pra quem ainda tem a pretensão de encontrar música em um canal de música, dias de semana de 1:30 às 2:30. Altas nostalgias de primórdios da MTV Brasil (como o clipe do Genesis de marionetes com o Reagan, onde no final do clipe ao invés de apertar o botão "nurse" ele aperta "nuke" - ops!), gotiquices básicas como Siouxsie & the Banshees, pops "antigos" (em terra de descartáveis da semana, coisa de 10 anos atrás é relíquia), Kraftwerk, e por aí vai. Todo dia rola algum "Ah é, essa música existe, bora pro Kazaa!" É o gueto da programação da MTV, refúgio onde programas como Clássicos e Lado B se escondem, pra quem quer algo além da loira gostosa da estação, o bad boy do momento ou a mais recente banda de jovens angustiados e rebeldes de laboratório. Eu fui desbravar o site da MTV pra ver exatamente que programas são, e quando:

2a - Clássicos, do bom e do melhor, até Modern English que eu nunca tinha visto rolou essa semana.
3a - Riff, no meu tempo era Fúria Metal, e apesar de rolar mais New Metal do que outra coisa, ainda dá pra salvar algo.
4a - Lado B, que atualmente consiste na maior parte em indiesices (de legais a bizarras), mas muita coisa boa de outras praias também, até clipe dos Butthole Surfers com Erik Estrada teve hoje!
5a - nação, que agora não está me ocorrendo a menor idéia do que seja.
6a - Não rola, só coisas não musicais como Jackass, mas em compensação às 11:00 da noite rola Amp, no mesmo esquema de coisas boas sortidas sem djs, muito eletrônico bom como 808 e Bomb the Bass rolando pra fugir do bate estaca padrão

Mas lembrem-se, quando der 2:30 mudem correndo, pra não darem de cara com um dos exemplos de como egotrip de vj tá valendo mais do que música na mtv atualmente!

Falando nisso...

Eu quero minha MTV! Sério, eu sou cria da MTV, mas de 10 anos atrás, quando dizer-se "geração MTV" não era motivo de embaraço. Pra mim a MTV desempenhou o papel de "tutor musical" geralmente desempenhado por irmãos ou amigos mais velhos, tios ou até pais (se dependesse dos meus pais, ouvindo Ray Conniff, Diana Ross ou Barbara Streissand eu tava na merda). Muita, mas muita coisa boa eu conheci por lá, e coisas de difícil acesso, ditas obscuras.

Saudade de quando a participação do vj era um breve aparte entre blocos de clipes, apresentando informações mais ou menos relevantes sobre a música em questão e só, e não falastrões tentando sem sucesso ser carismáticos, fazendo de tudo para trazer para si a atenção do espectador, deixando a música como um pormenor tão sem importância que atualmente na maioria dos programas os clipes nem passam inteiros...

Ver esse veículo rico de informação cultural diversa se tornar massificador de adolescentes dogmatizados é mais do que triste, é sentir-se traído, usurpado de uma referência. Não é questão de comercial vs. underground, nem chavões do gênero; é uma emissora de televisão, óbvio que é comercial e foi desde o início, tem que se preocupar com segmentos de consumidores e tal. Mas justamente, foi desde o início, e durante vários anos conciliou com sucesso comércio e cultura, então por que nos últimos anos ela precisou se tornar efetiva inimiga da cultura? Porque educar seu rebanho de jovens que só o que é recente, caro e espalhafatoso é bom, desprezando qualquer coisa um pouco mais simples e antiga, é negar a cultura no mais grave estilo Admirável Mundo Novo ("Eu só quero coisas novas, eu odeio coisas velhas").

Exemplo dessa ideologia dos anos recentes da MTV era o "Piores Clipes", que me parece ter sido o golpe de misericórdia sobre a antiga MTV. Nele mostrava-se como lixo qualquer clipe feito com recursos antigos e obsoletos, ou com baixo orçamento - ou seja, tudo aquilo que fosse diferente do modelo vigente sendo vendido. O modelo típico de clipe de rock dos anos 70, a banda tocando com um fundo de imagens psicodélicas (Black Sabbath, Deep Purple, etc.), era desmerecido por ser precário aos padrões atuais, assim como qualquer clipe que use algum efeito especial agora obsoleto. Enquanto isso se ria da breguice de clipes da Madonna ou Michael Jackson - no mais gritante ato de cuspir no prato que comeu, o que seria da linguagem do video-clipe sem esses dois! O que está sendo pregado com isso, se não a afirmação de que somente o status quo, não importa o quão efêmero, é relevante, e que o modismo de hoje é muito superior ao de ontem? Não me esqueço da insossa Sabrina, na chamada do Disk MTV, dizendo ser esse "o seu encontro diário com as bandas do momento"... Ou mostravam ainda clipes de quintal como Little Quail, onde nego se esforçava pra fazer o melhor possível com parcos recursos visuais. Se ao lado disso pusermos a apologia de clipes de milhões de dólares usando o que há de mais recente em efeitos e computação, fica claro o ideal de que pra ser bom tem que ser caro.

A MTV surgiu como um fôlego novo nas emissoras brasileiras, uma linguagem inovadora que se diferenciava das demais e blábláblá, para por fim se esvaziar nas mesmas fórmulas -- talk shows, programas de auditório, ênfase nos apresentadores e não no conteúdo -- das emissoras às quais ela antes apresentava uma alternativa. Mais um instrumento revolucionário perdido.

Ah, e pra quem eventualmente não tenha reconhecido a música de hoje, foi "Do You Remember Rock n' Roll Radio?" dos Ramones, né gente. Aparentemente a queixa do Joey Ramone há quase 30 anos é um exemplo daqueles fenômenos humanos cíclicos...

Enfim, no ritmo de palavras de louvor póstumo tardias -- já que o estado lastimável da MTV não é de hoje -- sempre é tempo de deixar minha agradecida homenagem ao Joey e ao Dee Dee Ramone, moleques punk rockers até o fim: ainda mais que meu primeiro show de rock foi o show deles no Canecão em 92, temperado com gás lacrimogêneo e skinheads, quando deu pra começar a entender mais de perto qual é a desse tal de rock n' roll.

"Do you remember lying in bed
With your covers pulled up over your head?
Radio playin' so no one can see"


posted by Manhaes at 4:20 AM



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