A Single Kiss ano X:
The Chestnut Tree Café
"Under the spreading chestnut tree, I sold you and you sold me"
-- George Orwell - "1984"

Após anos sob interdição, o Chestnut Tree Café agora se dedica a registrar as Crônicas de um Escravo de Colarinho Branco.

Música:
R.E.M.
Sisters of Mercy
Echo & the Bunnymen
Bauhaus
Kraftwerk
Nitzer Ebb
Leonard Cohen

Mas um dia foram:
Metallica
Iron Maiden
Ramones
Motörhead
Rage Against the Machine
Suicidal Tendencies

Filmes:
Big Fish
Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Bicentennial Man
The Wall
Fight Club
Before Sunset

Escritores:
F. Dostoievski
J.R.R. Tolkien
Leonard Cohen
F. Nietzsche
W. Reich
Alan Moore
Frank Miller

Lendo no momento:
F. Dostoievski - Um Jogador

Posts de destaque:
Inauguração
MTV
A palavra
Adaptações para Star Wars
Santos-tolos I, II, III, IV
A Paixão de Cristo I, II
Nacionalistas
O Medo
Nossa geração
Patterns
A censura
Joseph Welsh e Michael Moore
Dostoievski I, II, III
The Young Ideas

The Inner Party:
Após vários julgamentos públicos, há escassez de membros a indicar

Aprovados pelo MiniTrue:

Virtual Bookstore - Brasil
International Movie Database
H.R. Giger Official Website
Video "Killing Time at Home"
Absurd - Design Anihilation
Sinfest
Albino Black Sheep
Something Awful
Anel Um PBM

Quem controla o passado controla o futuro:




Content copyright protected by Copyscape website plagiarism search

terça-feira, julho 13, 2004

 

Anima Mundi - em andamento

Bom, o Anima Mundi ainda está pela metade aqui no Rio, mas após duas sessões sexta, duas hoje (segunda) e doze no fim de semana, em expediente de 13h às 22:30h sábado e domingo, eu já assisti a maioria do que vou assistir (o resto da semana vai ser só algumas pingadas em final de dia), então já dá pra fazer umas considerações e recomendações pra quem ainda vai pegar no Rio ou em São Paulo. Pena que esse blog tem feito a assombrosa marca de cinco visitas por dia, então essas recomendações sequer vão ter muito uso, mas enfim...

-Esse ano a "Praça Animada" no Espaço Cultural dos Correios sofreu um upgrade, está um luxo só (no sentido literal da palavra, não no sentido traveco): tendo sido ampliada e vedada, ela é agora a sala principal do evento, tendo as sessões da mostra competitiva concentradas lá, ao longo do dia todo, não apenas à noite como antes. O esquema ficou meio burocrático, mas é coisa de lugar luxuoso, fazer o quê: você entra pela sala de cinema do Correio, que ficou servindo como sala de espera onde fica passando o dvd do "Melhor do Anima Mundi vol.II"; e você sai por uma passarela que dá direto na Casa França-Brasil, que foi apropriada para o evento e ficou servindo como um lounge muito bem decorado com a maioria das oficinas, de quebra desafogando o saguão do CCBB, que ficou só com a oficina de pixelation (EU ODEIO PIXELATION!!! leia abaixo). A vedação de som não está perfeita, mas também com operários fazendo reforma na fachada adjacente do CCBB fica difícil, rola uma serra eventual ao fundo nas sessões em horário comercial.

-Longa do Bill Plympton é longa do Bill Plympton, né? Para o público em geral ele é mais conhecido como "o cara que fazia a vinheta do 'Sábio' na MTV", mas para os freqüentadores do Anima Mundi ele já é querido há anos, em cada edição tem ao menos um curta dele. Esse ano tem "Hair High" que, embora não seja tão escatológico e absurdo como "Mutant Aliens" que passou em 2002, é muito bom, com a abundância de exageros desnecessários e indigestos que a gente ama no trabalho dele. E como o filme se passa naquele cenário típico de high school americana dos anos 50 (com direito ao rapaz franzino se apaixonando pela líder das cheerleaders, que é claro namora com o capitão do time de futebol, etc.), com ênfase em cabelos armados de laquê e topetes gigantescos, é uma diversão adicional pra esses abílios por aí que se amarram no estilo.

-Parece que "Wonderful Days" já estava sendo aguardado pelos fãs de anime e/ou computação, e merecidamente. Essa é provavelmente a animação em 3D mais perfeita que eu já vi, com paisagens que em vários momentos podem convencer como reais, pondo no chinelo muito "Matrix" e "Star Wars" por aí (poisé, esses coreanos fazendo desenho fizeram algo melhor do que Lucas e irmãos Watchafuck fazendo "filme de verdade"...). A computação é tecnicamente impecável, embora falte no emprego dado a ela um pouco mais do zelo e empenho que transpareceram em "Final Fantasy" (que até então detinha pra mim o título de "computação que mais me fez babar"). Mas, onde faltou zelo eles compensaram com humildade: reconhecendo que há pontos em que o cgi ainda não dá conta, eles não tiveram nenhum problema em usar desenho tradicional e até (eu acho) maquetes, de modo que o cgi só é usado onde é garantido que ele vá fazer bem. Figuras humanas, fogo, fumaça e água, os calcanhares-de-aquiles da computação gráfica, foram feitos com desenho, deixando o longa esteticamente redondinho.

Mas, como é típico em animações de computação, nem um décimo do empenho dado ao gráfico foi dado à história: na mentalidade de que o que está importando ali são os cenários e imagens, eles remendaram um enredo meia-bomba qualquer, pretexto para o show visual. Terra devastada por abuso tecnológico e poluição, humanidade sobrevivendo graças a um imenso complexo tecnológico que consome a poluição, mas os "powers that be" preferem que a Terra continue poluída ao invés de limpá-la, coisa que está ao seu alcance com a nova tecnologia. Tecnologia essa cujo inventor foi banido por querer popularizar os benefícios de sua invenção, e agora lidera um grupo de resistência que tenta derrubar o monopólio, e usar a grande-gigantesca-mega-ultra-máquina que em um piscar de olhos pode mudar radicalmente a atmosfera do planeta. Se essa descrição te trouxe à mente "Highlander II" ou "Vingador do Futuro" eu consegui descrever bem, é por aí, e com clichês menores salpicados ao longo.

Mas vejam bem, recomendo e muito esse filme! Admitamos, em uma animação dessas o enredo é o de menos, o lance é o passeio estético mesmo.

* * *

Agora, minha recomendação maior fica para a sessão 7 da mostra competitiva. Por experiência, em uma sessão média do Anima Mundi você pode esperar uns 2-3 curtas muito bons (com sorte dentre eles um excelente que sozinho já valha a sessão), o resto mediano, com mais uns 2-3 irritantes (EU ODEIO PIXILATION!! Outro dia eu elaboro a respeito), seja lá por quais forem seus critérios. Pois essa sessão foi muito acima dessa média: dos 10 curtas dela, eu só votei menos de 4 (numa escala de 1 a 5) em três deles (um deles era, sim, pixilation), com vários 5. Se você é daquelas pessoas que vão dar um pulo ao acaso e pegar uma sessão pingada qualquer, façam o possível para que seja essa. Alguns deles merecem destaque:

.Boys Night Out: Uma comédia super boa-praça que abriu a sessão, em um traço bonitinho e inofensivo sobre um padrasto que, deixado tomando conta do enteado por uma noite, decide levá-lo a um strip-club. Consegue brincar com vários absurdos e baixarias sem arregaçar demais, com uma habilidade que conseguiria driblar qualquer censor.

.O Curupira: Esse eu aposto que vai ficar entre os vencedores. Animação de qualidade para agradar a galera da técnica, humor para agradar a galera que acha que desenho TEM que ser divertido, temperado com um pouco de suspense, e folclore nacional para agradar os nacionalistas de plantão, esse curta balanceia todos os ingredientes certos para ser premiado. E merecidamente, é realmente muito bom, não é que eles conseguiram fazer um curupira realmente assustador? Agora, pra gente ver, custa fazer animação direito? A maioria dos animadores brasileiros ou faz uma computação estéril e formalista, ou, numa geração mais recente, reciclam o anime da moda, ou, mais comum, algo muito precário e tosco, não por falta de recursos mas por estilo, acreditando, parece, que "brasilidade" é sinônimo de precariedade. Enquanto cultura e folclore nacionais forem necessariamente associados a trabalhos barrocos e rudimentares, é claro que tais trabalhos vão ser menosprezados, nem eles se dão ao valor! E por que diabos essa moda continuada de se meter o Matheus Machtergaele em todo canto? Essa é a segunda animação que eu vejo nesse festival com a participação dele (narrador, no caso), haja super-exposição!

.Oïo: Um trabalho abstrato que tinha tudo pra ser mais um daqueles virtuosismos chatérrimos, mas longe disso, consegue envolver evocando ritmo e emoção, e não aquela contemplação masturbatória pós-moderna. Um show de ondas, esguichos e gotas de tinta feitas em computador, embalado em vários movimentos musicais diferentes. Acreditem, descrevendo parece um porre, mas é delicioso!

.La Routine: Não tem jeito, eu sou apaixonado pelos quadrinhos franceses de modo geral, eles têm um estilo inconfundível que você pega no ar. Assim, é inevitável que as animações francesas que apresentam fidelidade a esse estilo são chover no molhado comigo, ainda mais por puxarem o viés existencialista tão comum na literatura francesa. Esse aqui mostra um senhor no meio da multidão de um trem no início ou final do expediente (representada por vultos difusos e indistintos, marcando a indigência da situação), e as fantasias que ele começa a ter com o cenário, com o maquinário ao seu redor se transformando em uma linha de montagem fantástica operada e habitada por duendes e afins. É lindo, naquela beleza e simplicidade que a animação francesa pode ter.
[esse aqui eu tive que editar, algum enter ou backspace inadvertidamente tinha comido umas três linhas, truncando o texto.]

Vale um aparte pra mencionar que, na herança dos quadrinhos e animações franceses, as animações canadenses também tendem a ser no mínimo merecedoras de se conferir, o país vem sempre bem representado no Anima Mundi. Com uma raiz forte na França, elas têm mais em comum com ela do que com seus vizinhos, e eventualmente acabam unindo o melhor de dois mundos, atenuando os extremos de ambos: o existencialismo e a estética franceses e o funcionalismo pragmático norte-americano. Uma animação ser aberta pela vinheta da NFO (National Film Board) Canadense quase sempre é bom sinal.

.Giant Leap - "My Culture": Esse na verdade é um videoclip que vem sendo massacrado pela Sony em seus intervalos, mas fora desse contexto a gente consegue ter uma boa vontade maior para vê-lo. Animação básica mas bem trabalhada, e não é que a música é até boa, e visto com legenda a gente se toca de que tem uma letra bem interessante (procurem aí). E tem participação do Robbie Williams, canastrão do brabo, mas que até que é gente boa, depois que a gente supera a antipatia. E lembrando que ele até já é da casa no Anima Mundi, já que foi ele quem dublou os dois desenhos do "Robbie the Reindeer", mencionados aqui no Natal passado.

.Guard Dog, curta do Bill Plympton fechando a sessão, need we say more?

* * *

Mas, acima de tudo, essa sessão 7 vale por "Killing Time at Home", um belo e doloroso curta mudo embalado por uns arranjos reminescentes de Radiohead. Sua sinopse diz que "For someone isolated from the outside world, all that's left to do is kill time, and for some, the only way to make friends is to grow them." Esse desenho é composto de tal forma que cada cena, cada detalhe e som soletram a emoção (no caso a apatia) que ele quer expressar, com um domínio e concisão de linguagem digno de poucos. Certamente de alguém com vasta experiência, não alguém recém-formado (o curta é de 2003, seu diretor Neil Coslett se formara em 2002), o que só faz aumentar a admiração. Ah sim, formalmente ele também é muito bom, tecnicamente bem feito e tal, mas, ao contrário de vídeos de computação gráfica, isso nem é o mais importante aqui.

Para aqueles que não vão poder assistir no festival, não é que ele está na íntegra e com resolução bem razoável aqui? Notem que não é nenhuma pirataria, é o prório site dos vencedores do Mesh, uma premiação anual do Channel 4 inglês. Depois, vale passear pelo resto do site e ver os demais vencedores do Mesh.

Mas não se esqueçam de, em algum momento nesse meio tempo, comprar o seu "Zinc Dude" no:



posted by Manhaes at 3:06 AM
0 grito(s) contra o Grande Irmão



Counter