A Single Kiss ano X:
The Chestnut Tree Café
"Under the spreading chestnut tree, I sold you and you sold me"
-- George Orwell - "1984"

Após anos sob interdição, o Chestnut Tree Café agora se dedica a registrar as Crônicas de um Escravo de Colarinho Branco.

Música:
R.E.M.
Sisters of Mercy
Echo & the Bunnymen
Bauhaus
Kraftwerk
Nitzer Ebb
Leonard Cohen

Mas um dia foram:
Metallica
Iron Maiden
Ramones
Motörhead
Rage Against the Machine
Suicidal Tendencies

Filmes:
Big Fish
Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Bicentennial Man
The Wall
Fight Club
Before Sunset

Escritores:
F. Dostoievski
J.R.R. Tolkien
Leonard Cohen
F. Nietzsche
W. Reich
Alan Moore
Frank Miller

Lendo no momento:
F. Dostoievski - Um Jogador

Posts de destaque:
Inauguração
MTV
A palavra
Adaptações para Star Wars
Santos-tolos I, II, III, IV
A Paixão de Cristo I, II
Nacionalistas
O Medo
Nossa geração
Patterns
A censura
Joseph Welsh e Michael Moore
Dostoievski I, II, III
The Young Ideas

The Inner Party:
Após vários julgamentos públicos, há escassez de membros a indicar

Aprovados pelo MiniTrue:

Virtual Bookstore - Brasil
International Movie Database
H.R. Giger Official Website
Video "Killing Time at Home"
Absurd - Design Anihilation
Sinfest
Albino Black Sheep
Something Awful
Anel Um PBM

Quem controla o passado controla o futuro:




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quinta-feira, maio 27, 2004

 

Com alguns desses meus posts mais elaborados acontece uma coisa estranha: em geral eles surgem como "resposta" a alguma coisa que eu tenha visto/ouvido e que tenha me incomodado, daí eu venho aqui no meu Muro das Ruminações argumentar o assunto à minha satisfação. Só que em alguns casos essa transição não se dá de imediato: às vezes eu passo o dia elaborando mentalmente o desenrolar do texto, repassando e revisando a organização a ponto de tê-lo quase pronto na cabeça, faltando apenas ser transcrito, e enquanto ele não for ele permanece incomodando como algo pendente. Acontece então que, quando eu finalmente posso parar para escrever, eu estou cansado dele, após ter "lido" seus argumentos durante o dia todo!

Nesses casos, ocorre uma de duas possibilidades: ou eu escrevo de uma vez pra resolver logo, mas aí ele sai com a falta de fluidez e tom desajeitado que adquirimos, por exemplo, quando repetimos muitas vezes seguidas uma palavra até ela perder o significado; ou eu deixo para depois, pra dar uma refrescada, e via de regra só o retomo meses depois, quando mesmo que eu ainda mantenha a opinião que vou expressar, a rigor o pensamento que originou a idéia não está mais presente, resultando na mesma falta de fluidez e tom desajeitado.

Com esse post anterior sobre o medo rolou esse segundo caso, essa argumentação se consolidou de fragmentos e lampejos soltos após eu ter lido em um blog diarinho desses um belo discurso sobre como a pessoa estava se empenhando em superar seus medos para vencer todas as barreiras, para o alto e avante, blábláblá. Deixei pra lá e só fui ter disposição de retomá-lo ontem, meses depois.

Mas nesse caso pelo menos a falta de fluidez foi compensada pela sincronicidade, já que ontem eu consegui, com um atraso de apenas uns 2 ou 3 anos, marcar a consulta de meu primeiro paciente. Sem maiores pormenores nem exposições pessoais, mas achei que valia a pena comentar a confluência de fatos, além de apontar a maneira literal e concreta com que os versos citados de "Spirits" se aplicam. Logo mais nós veremos ("nós" eu e minha equipe de supervisão, não eu e meus leitores) se em mais essa vez o "medo dará asas à coragem" -- pois "cheio de borboletas" (expressão idiomática para o "frio na barriga") eu estou, como todo estagiário de psicologia na iminência de sua primeira consulta, em concordância com a estrofe completa:

"I fill you up with butterflies
Crown the heads of kings
Be glad of first time nerves
For fear gives courage wings"


Aproveitando, caso eu convença alguém a buscar essa música, atentem ao fato de que existem duas versões, bem diferentes em ritmo, arranjos e clima. Certifiquem-se de buscar a versão original, do disco "The Sky's Gone Out", mais visceral e mambembe, e não a versão single, mais conhecida por constar na coletânea deles, que perde a altivez da original em troca de um ritmo pop mais redondo e padrão.

* * *

Falando então de terapia, vamos quebrar o clima de solenidade que esse post corre o risco de tomar com uma música totalmente inapropriada, mas perversamente aplicável, "Therapy" do Infectious Grooves:

"Therapy! Therapy!
Lost sight - I think I'm getting out of my range
Colors flash - now things are starting to get strange
Start it up - and you say you wanna get in on me
I need, I need, I need my --
Therapy - now just relax we'll put your mind at ease
Therapy - but first you've got to say "pretty please"

Therapy! Therapy!
Fire it up - put a little gas on the brain
All aboard - a ride on the newest thang
Chew chew - look out it's a runaway train
Pure pain, no gain, insane it's --
Therapy - and right before they dig into my mind
Therapy - the Dr. screams "let's got it's party time"

Therapy! Therapy!
Left, right, left, right - like every heartbeat needs a motion
Left, right, left, right - like every wave needs a sea
Left, right, left, right - like every teardrop needs an eyeball
Left, right, left, right - you've got to name your therapy
Therapy! Therapy! Therapy!

Snap pop - a sweet emotion just broke loose
Don't care - it ain't nothing I can use
Ha! Ha! - ain't it funny how we all abuse
You choose, abuse, you lose now --
Therapy - you know we want to help we really care
Therapy - but when your money's gone you're out of here!"


posted by Manhaes at 12:08 AM
0 grito(s) contra o Grande Irmão


quarta-feira, maio 26, 2004

 

Medo

"Be glad of first-time nerves
For fear gives courage wings"

Tanta coisa se fala sobre medo por aí, mas tão pouco de útil! De comerciais de pasta de dente a discussões existenciais, para todo lado que você se vire você se depara com discursos de superação, de sobrepor todos os limites, e acima de tudo de sempre vencer seus medos. Mas os medos não estão lá para serem vencidos!

E não é uma mera questão da mídia tentanto impor valores, pois ela está apenas chovendo no molhado e criando slogans em cima de valores correntes e estabelecidos. O medo é sempre tido como algo necessariamente prejudicial e nocivo, uma barreira a ser transposta, uma força a ser combatida. Ou seja, ele é reificado e projetado para fora, visto como algo externo e alheio a nós. Com todo o distanciamento e alienação de nossos próprios corpos e emoções que é implícito em nossos valores, fica fácil não percebermos como nosso algo que surge, existe e faz parte de nós!

Fundamentalmente, o medo é um de nossos maiores aliados, um dos mais básicos instintos de sobrevivência sem o qual não existiria o ser humano. É o medo que desencadeia a tão essencial resposta de luta-ou-fuga perante qualquer forma de ameaça. Por a maioria das ameaças em nosso cotidiano não ter a imediatez de um predador em nosso encalço, caímos no erro de descartar o medo resultante como uma tola e desnecessária frivolidade. Mas assim como "ameaça" para nós se tornou algo mais amplo e indireto, o mesmo aconteceu com "sobrevivência": da mesma forma que vemos como ameaçadoras situações sociais que não põem em risco nossa sobreviência per se, nós passamos a buscar qualidade de vida para além da mera sobrevivência. Ignorarmos ou negarmos cotidianamente os medos que sentimos prejudica diretamente tal qualidade de vida.

Se virmos então o medo da maneira habitual, inflado e pervertido ao ponto de se tornar uma ameaça que nos confronta, só nos resta duas maneiras de lidar com ele, ambas igualmente cegas: "encarar" a ameaça e lutar contra ela buscando uma superação maniqueísta; ou sucumbir sob ela, paralizados sob seu domínio.

Porém, o medo, que em si não é bom nem mau, não deveria ser paralizante, e sim instigante. O medo é um precioso calibre que, quando devidamente consultado, nos diz nossas capacidades e limites, nos diz até onde podemos ir, ou seja, nos dá nossas medidas, delineando (e preservando) nossa humanidade. Por "devidamente" me refiro a trazer o medo para junto de nós, perceber nele não um adversário, mas um aliado. Ter o medo em mãos, não como um gesto de vitória sobre um inimigo derrotado, mas como a aceitação e o subseqüente emprego legítimo de uma parte nossa que vinha sendo neglicenciada. Com o medo ao nosso lado, podemos dialeticamente não ter medo no que estamos fazendo e seguir adiante, pois o medo nos acenará ao chegarmos no limite. Pois nós temos limites, é claro, ao contrário do que prega uma cultura pós-capitalista que, em nome de um suposto crescimento pessoal, quer que todos se empenhem em buscar produzir mais e mais, conforme os valores de um positivismo anglo-americano. A negação de tais limites (ou seja, o distanciamento de nosso medo) é responsável por grande parte das mazelas da vida moderna, com as pessoas se mortificando e pervertendo em nome de uma suposta superação.

Exemplificando esse calibre, ao andar de moto é prejudicial manter um medo que nos proporcione um saudável princípio de realidade? Pois era o próprio medo de andar de moto que me dava a tranqüilidade para andar de moto e ainda desfrutar de tal experiência, de fato o medo gerava auto-confiança.

Mas não falo de se ater ao medo para ficar apenas em águas rasas e serenas, com medo de arriscar a correnteza (essa seria a visão do medo-inimigo tendo dominado). Pois ao mesmo tempo que pode ser essa "margem de segurança", o medo pode também ser força motriz a nos impulsionar. Lembrem-se, o medo não gera (ou não deveria) gerar paralizia e estagnação, mas sim luta ou fuga, ou seja, movimento. Certa vez eu li um livro de fantasia no qual o protagonista, um exímio e renomado espadachim, discorria sobre o "medo inspirador". Ele dizia como era não a bravura, mas sim o medo que o fizera vencer todas as suas lutas, que mesmo toda a sua experiência não removera seu medo, e acima de tudo que tinha certeza de que o dia em que ele deixasse de ter medo seria o dia em que ele seria derrotado.

Como eu disse antes, o medo é um dos delimitadores de nossa humanidade. Real ou simbolicamente, ao nos defrontarmos com algo amedrontador estamos nos defrontando com nossa mortalidade, o limite de nossa vida: ou seja, quando sentimos medo, vislumbramos a totalidade das dimensões de nossa vida, nos sentimos vivos. Fazer bungee-jump, por exemplo, não foi um domínio sobre meu medo, eu tremia como vara verde antes de pular e dava graças a deus por estar de estômago vazio. Porém, sem esse tremor visceral de pavor (lançar-se em queda livre de uma altura fatal, não há conhecimento intelectual que se sobreponha à intuição de que você vai morrer na queda) não seria possível ter o tremor de júbilo correndo pelo corpo após o pulo. Nesse sentido, o medo não se difere em nada da excitação sexual, ambos são acúmulos de tensão que precedem descargas prazerosas.

Pois enfim, revejamos nossos medos, e consideremos o que podemos superar ao não superá-los. Na mitologia grega, a Medusa era de fato uma importante parte de Perseu, que após tê-la "matado" passou a tê-la consigo para ajudá-lo contra seus inimigos -- ou seja, ele não a matou, ele a "recrutou". Quando nos defrontamos com algum medo paralizante e aniquilador, o problema não é o medo, mas sim o que fazemos dele, como o transformamos em algo mau. E se eu abri esse post com "Spirits", a poética ode do Bauhaus ao teatro que fala sobre um medo que dá asas à coragem e eleva a alma às alturas, encerremos então com mais Bauhaus, em sua faceta dub/ska, com "In Fear of Fear", que por sua vez comenta sobre o confronto com esse outro medo "mau":

"You fear the lesson
And fear to walk
And fear to pass on
Your fear to talk
The teacher was feared
Your parents too
Then you became
The fear of you

Look to yourself
Climb over the wall
And see behind
That you're not so small
Then you won't blame fear
When competing's too much
As you fall on your back
As you fail to touch

And I say to you
When your fear is strong
When you fear your life
Then your fear is wrong
Set free your past
So shredding the skin
Then you won't fear
The fear of sin

Fear..."


posted by Manhaes at 1:46 AM
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quinta-feira, maio 20, 2004

 

Para manter a galera entretida, confiram essa matéria antiga do site do Fantástico. Por um furo do site eles não dizem a data dela, mas ela deve ter uns dois anos mais ou menos, se não me engano foi próxima à estréia de "Ataque dos Clones". Prestem atenção por favor que as coisas que eu disse nela foram todas "se fosse", tá?! Meu princípio de realidade continua razoavelmente intacto... :P


posted by Manhaes at 1:38 AM
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quarta-feira, maio 19, 2004

 

Só para quebrar o silêncio, um comentário sobre algo que eu li hoje que me deixou meio alarmado. Folheando o Globo do dia em uma sala de espera, eu vi na capa do caderno Megazine essa matéria (é preciso ser cadastrado no site do Globo para ler esse link, é só dar aquele email antigo que você não usa mais para evitar os spams) falando sobre uma pesquisa que levantou a postura de 3500 jovens de 15 a 24 anos quanto a trabalho, e de quebra outras posturas sociais.

O dado que me alarmou nem é lá tão importante, e era meramente complementar na pesquisa: 22% dos entrevistados acham que viver em uma democracia ou em uma ditadura não faz diferença (pelo menos foram só 22%, mas ainda assim...), e 46% não sabiam o significado do termo "socialismo"!

Não estou aqui prezando nem defendendo o Socialismo, mas pensem nisso, além da impressionante falta de conhecimento histórico recente que isso demonstra, isso nos leva a crer que essas pessoas sequer cogitam que exista realidade fora do Capitalismo! Não estamos falando de algum evento ou nome obscuro da história distante, mas de um dos movimentos definidores (tanto por si só quanto pelo confronto com o Capitalismo na Guerra Fria) definidores do séc.XX, com repercursões diretas no nosso país!

Só pelos dados apresentados eu tenho lá minhas dúvidas quanto a essa pesquisa, com dados como 90% dos jovens não terem experimentado maconha, eu acredito que das duas, uma: ou a amostra entrevistada não é nem um pouco representativa da população (todos os exemplos particulares citados eram da Zona Sul do RJ, seja de condomínios ou de favelas), ou a abordagem foi tal que os entrevistados não se sentiram à vontade para dar respostas verídicas em questões mais delicadas referentes a sexo e drogas - qualquer um dos casos sendo impedidor sério na validação de uma pesquisa.

* * *

Vejam que coisa, hoje recebi um e-mail da Ana Ban (por sinal o primeiro que recebo originado de uma visita a esse blog), a tradutora de "Deuses Americanos" do Neil Gaiman. Sim, aquela mesma cujo trabalho eu havia detonado em um post passado... Não estou bem certo se ela foi bastante simpática e polida (ainda mais considerando a situação), ou se ela foi tão sutilmente sarcástica que eu nem percebi, mas entre mortos e feridos, creio que tenham se salvado todos. Eu até sustentei minhas críticas, mas quando você fica "frente" à pessoa criticada a coisa muda de figura, você se dá conta de que era de alguém real que você estava falando. Isso serve pra gente aprender a ter cuidado com o que e de quem a gente fala em canais públicos: com Google e boca-a-boca, todo mundo acaba sabendo de tudo.

* * *

Semana passada eu vi "Kill Bill", mas como eu já estou mesmo atrasado para a leva de comentários a respeito do filme, vou esperar para comentar logo junto com "Tróia", pois eu acredito que os dois têm muito em comum, em termos de espectativas e histerias coletivas.


posted by Manhaes at 1:49 AM
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terça-feira, maio 11, 2004

 

Máfia Estudantil

E a gente aqui achando que a máfia da meia-entrada da UNE tinha acabado... Antigamente a lei que garante meia-entrada a estudantes em eventos culturais havia sido pervertida em "meia-entrada para quem tiver carteira da UNE", cria de um lobby que obrigava os estudantes a pagar a facada da carteira da UNE caso quisessem usufruir de um direito que independe dessa organização.

Pois bem, de uns anos pra cá a coisa melhorou, e graças a reformulações, a lei voltou a vigorar com seu significado e intenção original. Após algumas birras judiciais, qualquer teatro e cinema (até mesmo o Cinemark, cheio de nove horas e poréns) aceita vender meia mediante qualquer comprovante da instituição de ensino com identidade. Tudo lindo, tudo belo, mas aí a gente descobre que o Canecão (e imagino que o Metropolitan também, outro que é chegado em tirar o seu fora) só está vendendo meia-entrada para portadores de carteira da UNE ou UBES!

Isso dá uma sensação de retrocesso legal escrota, a máfia da UNE continua com seus poderes e conchavos, conseguindo que "portadores de carteira da UNE ou UBES" se mantenha como categoria misteriosamente distinta de "estudantes". Tem até posto de venda na sede da UNE no Catete mas, claro, só para portadores da carteira -- em outras palavras, só para quem tiver pago a taxa de adesão extorciva do clubinho.

E aí que 30 reais na meia do show do Motorhead já seria doído, 60 reais é impraticável. Fazer a carteira para daí comprar meia resultaria em um gasto total de 48 reais, e não dá nem pra se dizer que os 18 reais da carteira se fariam úteis para outras ocasiões, já que nas outras ela não seria necessária, bastanto o comprovante da faculdade...

Alguém tem um ingresso de cortesia aí? ;)


posted by Manhaes at 5:21 PM
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Ao ler um texto aguado de sociologia para aquela aula já citada aqui -- que a cada dia gera aburdos cada vez maiores, se eu tiver estômago depois eu relato a última pérola discriminatória soltada pela professora como "saber" -- eu esbarrei em uma citação interessante:

"Aquele que não está em condições de suportar a melancolia da insuficiência de uma ciência sociológica do homem deve voltar as costas a esta disciplina; pois o dogmatismo sociológico é pior do que a inexistência da sociologia."- Ralf Dahrendorf, "Homo Sociologicus"


Me parece bem útil essa frase, ainda mais se expandida para todas as ciências humanas, ou até mesmo para qualquer ciência. "Sociologia" nela pode ser substituída por qualquer ciência em questão para se obter o mesmo aviso pertinente.

Acho que isso reforça aquela minha teoria, normalmente aplicada ao cinema, de que (quase) nada é totalmente inútil, sempre dando para se salvar alguma migalha. O texto é aguado, a aula é fraca, e a área estudada é a mais dispensável das ciências humanas, mas ainda assim dá pra se salvar um trocado eventual.


posted by Manhaes at 1:51 AM
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segunda-feira, maio 10, 2004

 

Me ocorreu que no meu post sobre filmes de vampiros eu cometi um erro sério, quando escrevi "Parece realmente que o sangue novo (sem trocadilho, por favor) nesse gênero se esgotou com "Entrevista com o Vampiro", e de lá pra cá o cinema vem apostado na falta de memória do espectador para nos trazer sempre mais do mesmo". Injustiça, pois ao escrever isso ignorei A Sombra do Vampiro, de 2000, com John Malkovich e Willem Dafoe se confrontando em tela pela interpretação do personagem mais monstruoso.

Mas acho que o deslize é perdoável, é um filme de vampiro tão atípico que quando se diz que é um "filme de vampiro" algo soa fora de lugar. Baseado em acontecimentos estranhos que ocorreram durante a gravação do clássico alemão Nosferatu, de 1922, o filme nos apresenta como o diretor F.W.Murnau (John Malkovich) teria feito um pacto com um vampiro de verdade (Willem Dafoe) para interpretar o vampiro de seu filme. O filme presta tributo adequado ao cinema mudo alemão, e nos apresenta algumas cenas notáveis, oscilando entre o terror, o drama, o existencial e o simplesmente bizarro; os diálogos entre o artista frio e inumano e o vampiro repugnante e decrépito (extremo oposto de toda a tradição de vampiros sedutores) são alguns dos mais memoráveis que eu já vi.

Como, por exemplo, aquele em que Max Schreck explica porque não se conteve e matou um membro da equipe de filmagem (transcrito de memória, pode não ser exatamente isso): "In my old age, I feed like old man pee: sometimes drop by drop, sometimes all at once... I eat erratically, often enormously"..

De resto, comentários melhores foram feitos por um visitante ao IMDB no link acima. Quem ainda não tiver visto o filme, corrija o erro!

* * *

Como existe malandro querendo fazer corpo mole por aí! Todo dia aparece pelo menos uma visita a este blog originada pela busca no Google do fichamento de algum livro mencionado aqui. Como há alguns meses eu mencionei um fichamento de faculdade aqui, e como eu falo em livros por toda a parte, as pessoas acabam parando aqui com parâmetros de busca como "fichamento Ponto de Mutação", "fichamento Admirável Mundo Novo", e por aí vai. Deplorável... :P

* * *

E só porque eu acho que já está na hora de mais uma dose periódica de cinismo e misantropia, Leonard Cohen:

"Everybody knows that the dice are loaded
Everybody rolls with their fingers crossed
Everybody knows that the war is over
Everybody knows the good guys lost
Everybody knows the fight was fixed
The poor stay poor, the rich get rich
That's how it goes
Everybody knows

Everybody knows that the boat is leaking
Everybody knows the captain lied
Everybody got this broken feeling
Like their father or their dog just died
Everybody talking to their pockets
Everybody wants a box of chocolates
And a long stem rose
Everybody knows

Everybody knows that you love me, baby
Everybody knows that you really do
Everybody knows that you've been faithful
Ah, give or take a night or two
Everybody knows you've been discreet
But there were so many people you just had to meet
Without your clothes
And everybody knows

Everybody knows, everybody knows
That's how it goes... Everybody knows

And everybody knows that it's now or never
Everybody knows that it's me or you
And everybody knows that you live forever
Ah, when you've done a line or two
Everybody knows the deal is rotten
Old Black Joe's still pickin' cotton
For your ribbons and bows
And everybody knows

And everybody knows that the Plague is coming
Everybody knows that it's moving fast
Everybody knows that the naked man and woman
Are just a shining artifact of the past
Everybody knows the scene is dead
But there's gonna be a meter on your bed
That will disclose
What everybody knows

And everybody knows that you're in trouble
Everybody knows what you've been through
From the bloody cross on top of Calvary
To the beach of Malibu
Everybody knows it's coming apart
Take one last look at this Sacred Heart
Before it blows
And everybody knows

Everybody knows, everybody knows
That's how it goes... Everybody knows"

Leonard Cohen - "Everybody Knows"


posted by Manhaes at 12:56 AM
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sábado, maio 08, 2004

 



Eu tinha ouvido boatos, e não é que é verdade? Motörhead está marcado para tocar no Canecão próxima 5a feira, 13/05! Digo "está marcado", pois como eu mesmo agourei recentemente (e acertadamente) quanto ao show dos Pet Shop Boys, os produtores locais são mestres em desorganização e acabar dando para trás em cima da hora, deixando a galera por vezes de ingresso na mão.

E vejam que curioso, a primeira ocorrência que eu acompanhei de um show estar quase certo e acabar sendo cancelado foi justamente de Lemmy e Cia., e no mesmo Canecão, em 94. Para quem se lembra, em setembro do ano anterior o Canecão havia sido palco do tão aguardado primeiro show dos Ramones no Rio -- que por sinal foi minha iniciação em show de rock, na tenra idade de 13 anos -- e da infâmia ocasionada pelos Carecas do Brasil com seu gás lacrimogênio e sua violência, que vieram de SP atrapalhar o primeiro contato ao vivo dos cariocas com os Ramones (eles já haviam vindo para SP outras vezes, e nessa também tocaram lá).

Em função disso, os esclarecidos produtores e a administração do Canecão entenderam que shows de rock implicavam em violência, e deram pra trás no show do Motörhead, deixando a gente na mão até 2000, quando finalmente tivemos a oportunidade de ficar com os ouvidos zumbindo com esporro da melhor qualidade. E agora, fechando o círculo, eis Motörhead finalmente vindo tocar no Canecão!

Vou até desenterrar meu boné surrado do Motörhead que, assim como seu antecessor que se decompôs de tanto uso, era uma constante na minha cabeça durante primeira metade da minha adolescência.

Pra fechar então, uma relativamente recente, "Stand", do álbum "March or Die" ilustrado acima. Não é nenhum clássico como "Ace of Spades", mas tem um clima empolgante de hino, estilo "sing-along" com a galera bradando "stand" a cada verso (daquela que para o efeito pleno ser alcançado não basta ler, tem que ouvir):

"Stand - you can make it
Stand - you can take it
Stand - realize that nobody can break it for you
If you stand - you can do it
Stand - go right to it
Stand - nobody can do a damn thing to you

But you can´t stand - if you don´t care
Can´t stand - if you don´t dare
Can´t stand - if you´re running scared
Forget you´re blood and bone
Stand like you´re made of stone

Stand - on your honor
Stand - know you´re gonna
Stand - they can´t put the creeping death upon you
If you stand - never move it
Stand - gotta prove it
Stand - gonna stand ´cause you can´t stand to lose it

Stand - stand - stand like a rock
Stand - stand - you gotta stop their clock
Stand - stand - put them into shock

Stand - stand together
Stand - yeah, you better
Stand - don´t you know that you can live forever
If you stand - one for all
Stand - don´t you crawl
Stand - if you stand then you deserve it all

But if you can´t stand, then they´re the boss,
Can´t stand - it´s a total loss
Can´t stand - they´ll nail you to the cross
Forget you´re blood and bone
Stand like you´re made of stone

Stand!"


posted by Manhaes at 2:14 AM
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quarta-feira, maio 05, 2004

 

A Ascensão dos Mortos

Gente, e não é que o remake de Dawn of the Dead é bom? Digo, realmente bom! Esse filme me remeteu diretamente à minha discussão sobre músicas covers: uma boa versão cover não deveria ser uma mera repetição do original (se não qual o sentido em fazê-lo?) nem uma reformulação total da original a ponto de ser uma música completamente diferente. E é exatamente o que Zack Snyder conseguiu com esse filme, manter fielmente cada ingrediente e "regra" criados por George Romero, mas com toques que não só atualizam como expandem o tema, fazendo algo maior do que o original mas ainda assim fiel a ele.

Ele consegue não ficar na mera repetição do gênero; a impressão que dá é de que o diretor se perguntou "como será que o Romero teria feito se ele tivesse um orçamento hollywoodiano para a produção?". O que eu acredito ser o diferencial dessa adaptação é a total falta de experiência de seu diretor (nem uma experiência anterior como membro técnico no IMDB). Ao invés de termos um diretor virtuoso querendo dar seu toque a um tema clássico, temos um ávido fã que cresceu vendo os filmes de Romero e outros tantos, e que fez uma minuciosa e respeitosa homenagem ao original (imagem visível nas entrevistas promocionais do filme). Todos os ingredientes estão lá, com algum background em filmes do gênero o espectador é capaz de cantar cena a cena o que acontecerá a seguir, e ainda assim ser afetado -- uma grande mérito do filme, não depender de susto para dar medo, você sabe que aquela pessoa vai virar zumbi, que aquele vulto não é de alguém vivo, que aquela cena plácida vai ser quebrada por algum som estridente e impactante, e ainda assim pula na cadeira quando acontece.

Ele é, de fato, um filme para fãs do gênero, sem se preocupar em explicar o como e o porque da epidemia de zumbis; por um lado, você já sabe, por outro, não importa, é algo que simplesmente aconteceu sem que ninguém saiba porque, reforçando o terror do desconhecido. Ele vai direto ao assunto, in media res, e mesmo nos poucos minutos de filme que precedem o início da correria o espectador se liga que a epidemia já está rolando mas ninguém se deu conta ainda. E uma revitalização interessante é o aumento do âmbito da epidemia: em todo filme de zumbis (tanto do Romero quanto outros), os zumbis são sempre um surto local de alguma cidade pequena, que em algum momento será isolado e contido (ineficientemente, claro, para que haja continuações), então só quem está ameaçado são as pessoas imediatamente próximas. Aqui não, a epidemia assolou toda a humanidade (ou apenas os EUA, o que para efeitos do filme dá no mesmo), não há para onde correr, dando um claustrofóbico ar de desespero sem precedentes no original.

E o comentário social também foi revitalizado: cada filme da trilogia de Romero se passou em uma década diferente, cada um comentando algum fator social preemente em sua respectiva década. Logo, Zack Snyder foi tão fiel ao original a ponto de não se ater à crítica original de Dawn of the Dead: a crítica original ao consumismo continua lá, aliada à crítica atual à banalização e dessensibilização da violência, com os sobreviventes ilhados ludicamente passando tempo praticando tiro ao alvo com zumbis, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Mas não se enganem, apesar de uma risonha revisita aos filmes de zumbi de nossa infância, o diretor sabe, assim como seu predecessor, ir além das tripas e miolos voando, conseguindo uns momentos bem tensos e assustadores. E fala sério, os zumbis dele correm, coisa que foi objeto de crítica de muitos fãs mais tradicionais, para quem os zumbis avançando lentamente rumo a suas vítimas era algo muito mais assustador. Pode até ser o caso de espectadores massificados atuais não terem a sutileza para apreciar algo reqintado, mas uma horda de zumbis avançando correndo com toda a urgência de sua fome por carne, dando aos acuados sobreviventes apenas segundos para reagir, me parece algo instintivamente muito mais assustador - um predador que vai te alcançar em segundos é muito mais ameaçador do que um outro que vai te alcançar semana que vem.

Eu fui ao cinema no pique de cumprir minha obrigação com o gênero, e saí com a crença revitalizada de que tal gênero ainda tem algo para oferecer.

* * *

O que parece ser mais do que se pode dizer dos filmes com os outros habitantes monstruosos de nosso imaginário, os vampiros e lobisomens. Infelizmente eu não tive a oportunidade de assistir "Underworld" (só salas ruins ou distantes, o filme não merecia tanto esforço), mas o primeiro contato com trailers já dizia que seria um lixo tóxico. Eu queria muito ter visto, naquela de "putz, deve ser muito ruim, TENHO que conferir", mas vários depoimentos me disseram que até enquanto filme ruim ele é ruim!

Outro que eu pretendo muito perder (ou talvez veja só pela estética mesmo) é Van Helsing, mais um da família de filmes de vampiros dos últimos anos a colocar caçadores de vampiros com um ar de cowboy usando equipamentos ao mesmo tempo medievais e futuristas (muito cromo por toda a parte): "Vampiros do Deserto", "Vampiros de John Carpenter", "Drácula 2000", e por aí vai. Parece realmente que o sangue novo (sem trocadilho, por favor) nesse gênero se esgotou com "Entrevista com o Vampiro", e de lá pra cá o cinema vem apostado na falta de memória do espectador para nos trazer sempre mais do mesmo.

* * *

E fechando com chave de ouro minha orgia literária, semana passada eu ganhei edição em volume único de "Senhor dos Anéis" da Harper-Collins, aquela com o Gandalf como um andarilho determinado vagueando pela Terra-Média. Finalmente, vou poder ler Tolkien com as palavras de Tolkien! :)

Falando no velho Corvo das Tormentas, isso me remete àquele meu comentário sobre músicas existentes que seriviriam como tema para personagens ou cenas de "Senhor dos Anéis". E essa talvez até seja inspirada mesmo nele, já que aquele hippiezada da época de modo geral se amarrava em Tolkien:

Black Sabbath - "The Wizard"

"Misty morning, clouds in the sky
Without warning, the wizard walks by
Casting his shadow, weaving his spell
Funny clothes, tinkling bell

Never talking
Just keeps walking
Spreading his magic

Evil power disappears
Demons worry when the wizard is near
He turns tears into joy
Everyone's happy when the wizard walks by

Never talking
Just keeps walking
Spreading his magic

Sun is shining, clouds have gone by
All the people give a happy sigh
He has passed by, giving his sign
Left all the people feeling so fine

Never talking
Just keeps walking
Spreading his magic"


posted by Manhaes at 3:55 PM



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